Compilado por Amália Safatle

Dicionário

Conheça o significado dos termos usados nesta edição

Adaptação – Iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos em face dos efeitos atuais e daqueles esperados em razão da mudança do clima. A transferência de populações de zonas costeiras baixas para zonas mais altas é um exemplo de adaptação à elevação do nível dos oceanos. Diferentemente da mitigação, a adaptação envolve ações e políticas que são planejadas para contemplar também outros objetivos e envolvem múltiplos setores. Assim, implicam uma complexidade conceitual e temática, representando um clássico problema global de diferentes escalas de tomada de decisão, caracterizado por uma grande diversidade de atores, múltiplos estressores e variadas escalas de tempo.

Adaptação baseada em Ecossistema (AbE) – Segundo o Programa das Nações para o Meio Ambiente (Pnuma), significa o uso dos serviços ecossistêmicos e da biodiversidade como parte de uma estratégia de adaptação mais ampla para auxiliar as pessoas e as comunidades a lidarem com os efeitos negativos da mudança climática – em nível local, nacional, regional e global. Um exemplo de AbE são os manguezais funcionando como barreiras que detêm o avanço do mar sobre ilhas e continentes.

Algas gracilarioides – Pertencentes ao gênero Gracilaria, de algas vermelhas, das quais se pode extrair o biopolímero agar. Este é largamente utilizado nas indústrias alimentar e farmacêutica como agente gelificante e estabilizante.

Bem-estar – Representa um conjunto de elementos básicos para uma boa vida, liberdade de escolha, saúde, boa disposição física, boas relações sociais, segurança, paz de espírito e vivência espiritual.

Biomimética – Em termos simplificados, significa imitação (mimesis) da vida (bios). Esta área da ciência observa a natureza e procura reproduzir fenômenos similares aos encontrados nos sistemas biológicos, buscando soluções inovadoras para o design, a tecnologia, o lançamento de produtos, o bem-estar e até mesmo para processos de gestão, entre outros. Tem como expoente a americana Janine Benyus, que em 1997 lançou a obra Biomimética – Inovação inspirada pela natureza (mais nesta reportagem e nesta entrevista da Página22)

Capital natural – Pode ser definido como “estoque ou reserva provida pela natureza (biótica ou abiótica) que produz um valioso fluxo futuro de recursos ou serviços naturais”, segundo os autores Herman Daly e Joshua Farley. Um exemplo de “estoque” são os ecossistemas, enquanto os serviços ecossistêmicos são exemplo de “fluxo”.

Desvio-padrão – Medida que representa o quanto os valores dos quais se extraiu a média são próximos ou distantes da própria média.

Ecossistema – Um complexo dinâmico de plantas, animais, microrganismos e seu ambiente não vivo interagindo como uma unidade funcional. Exemplos de ambiente não vivo são a fração mineral do solo, o relevo, as chuvas, a temperatura, os rios e lagos – independente das espécies que os habitam.

Efluentes – Resíduos provenientes de indústrias, esgotos e redes pluviais que são descartados no meio ambiente, na forma de líquidos ou de gases.

Empresa social – Organização que combina características do Segundo e do Terceiro Setor e passou a pertencer ao que se convencionou chamar de Setor 2.5 (dois e meio). A empresa social busca associar a expertise do mundo dos negócios empresariais com a expertise social das organizações sem fins lucrativos.

Eutrofização – Processo por meio do qual um corpo de água adquire níveis altos de nutrientes, especialmente fosfatos e nitratos, provocando o posterior acúmulo de matéria orgânica em decomposição.

Externalidade negativa ou positiva: Reflexos negativos ou positivos de uma atividade que são sentidos por aqueles que pouco ou nada contribuíram para gerá-los.

Infraestrutura cinza – Obras convencionais da engenharia civil, como estradas, edifícios, barragens. O cinza é uma referência ao cimento utilizado na urbanização.

Infraestrutura verde – Método que visa a conservação da biodiversidade por meio de ações que reforçam a resiliência dos ecossistemas, contribuindo simultaneamente para a adaptação à mudança do clima e para reduzir a vulnerabilidade na ocorrência de catástrofes naturais.

O conceito foi introduzido pelo White Paper da Comissão Europeia sobre Adaptação às Alterações Climáticas (2009). Segundo o documento, a infraestrutura verde é “essencial para mitigar a fragmentação e o uso não sustentável do solo e para manter e recuperar ecologicamente os serviços ecossistêmicos”.

Lixiviação – Com a extração da vegetação natural, o solo fica exposto ao sol, ao vento, às chuvas. A lixiviação é justamente o processo de lavagem superficial dos sais minerais do solo provocado pelas chuvas, o que leva a erosões, perda de fertilidade e assoreamento dos cursos d’água (acúmulo de sedimentos na calha dos rios).

Ninfeias – Gênero botânico que inclui várias espécies de plantas macrófitas aquáticas.

Plantas macrófitas aquáticas – Vegetais que habitam desde brejos até ambientes totalmente submersos. Apresentam algumas características de vegetais terrestres e uma grande capacidade de adaptação a diferentes tipos de ambiente, o que torna sua ocorrência muito ampla. Podem ser emersas (ex.: taboa, junco), flutuantes (orelha-de-rato, aguapé), com folhas flutuantes (vitória-régia, lírio-d’água), submersas enraizadas (cabomba) e submersas livres (utriculária).

Mitigação – Ações voltadas para a redução das emissões de gases de efeito estufa que visam limitar os efeitos da mudança do clima, entre os quais elevação do nível dos oceanos, furacões e temperaturas extremas. Um exemplo de ação de mitigação é a troca de fontes de energia baseadas em petróleo por fontes renováveis.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – Agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015 composta de 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030. Os temas podem ser divididos em quatro dimensões principais:

  • Social: relacionada às necessidades humanas, de saúde, educação, melhora da qualidade de vida e justiça.
  • Ambiental: trata da preservação e conservação do meio ambiente, com ações que vão da reversão do desmatamento, proteção das florestas e da biodiversidade, combate à desertificação, uso sustentável dos oceanos e recursos marinhos até a adoção de medidas efetivas contra mudanças climáticas.
  • Econômica: aborda o uso e o esgotamento dos recursos naturais, a produção de resíduos, o consumo de energia, entre outros.
  • Institucional: diz respeito às capacidades de pôr em prática os ODS.

Os ODS foram construídos em um processo de negociação mundial, que teve início em 2013 e contou com a participação do Brasil em suas discussões e definições a respeito desta agenda. O País tem se posicionado de forma firme em favor de contemplar a erradicação da pobreza como prioridade entre as iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável. Fonte: estrategiaods.org.br/

Resiliência – Na Física, é a capacidade de um determinado sistema de recuperar o equilíbrio após ter sofrido uma perturbação. No contexto climático, trata-se da capacidade dos sistemas sociais, econômicos e ambientais de lidar com impactos climáticos, reorganizando-se de modo a manter sua função essencial, identidade e estrutura, ao mesmo tempo que continua apto para a adaptação, a aprendizagem e a transformação.

Risco Brasil – Medida que visa classificar o risco geral de um país. O índice Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+) é o mais utilizado pelo mercado para expressar o nível de risco.

Serviços ecossistêmicos – Segundo a iniciativa The Economics of Ecosystems and Biodiversity (Teeb), são as contribuições diretas e indiretas dos ecossistemas ao bem-estar humano. Exemplos de serviços prestados pela natureza são o crescimento de vegetação que retira carbono da atmosfera, mantém a qualidade do solo e evita a erosão, o que põe em risco encostas, moradias e o fluxo dos rios. Mais sobre serviços ecossistêmicos nesta edição de P22_ON.

Soluções baseadas na Natureza (SbN) – Segundo a International Union for Conservation of Nature (IUCN), são intervenções inspiradas ou baseadas na natureza para resolver desafios de diversos setores da sociedade de modo sustentável. Esse tipo de solução ajuda a proteger o meio ambiente, trazendo ainda benefícios econômicos e sociais.

Taxa de desconto – Custo de capital utilizado em uma análise de retorno financeiro. Pode ser calculada por meio do Custo Médio Ponderado do Capital (WACC, do inglês Weighted Average Capital Cost), taxa que indica o nível de atratividade mínima do investimento, ou seja, o retorno esperado existente em outros investimentos.

Valor presente – Valor de uma certa soma de dinheiro em uma certa data futura, levando-se em conta o juro proporcionados por tal soma. Pode ser entendido também como o valor de um fluxo futuro de recurso ou custos em termos de seu valor atual. Para a obtenção desse valor é utilizada uma taxa de desconto.

Vulnerabilidade – Grau em que um sistema é suscetível e incapaz de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima. Pode ser econômica, social, ambiental e/ou física. As zonas costeiras, por exemplo, são fisicamente vulneráveis à elevação dos oceanos, mas muitas são social e economicamente capazes de se adaptarem a esse problema. O Nordeste brasileiro e a África Subsaariana são vulneráveis à intensificação das secas, tanto nos aspectos ambientais quando nos sociais e econômicos.

Dicas de vídeos, blogs, sites e leituras

  • Conceito: do que estamos falando?

Quer obter uma visão mais completa do conceito de SbN? Acesse esta página da International Union for Conservation of Nature (IUCN).

  • SbN, um grande guarda-chuva

Alguns conceitos, como o de Capital Natural e de Serviços Ecossistêmicos, cabem embaixo do guarda-chuva Soluções baseadas na Natureza.

No campo do Capital Natural, a referência do momento é o Natural Capital Protocol. Para saber mais, navegue no site da Natural Capital Coalition, uma rede global de colaboração que reúne iniciativas e organizações.

Quanto ao tema dos Serviços Ecossistêmicos, lembram-se desta edição de P22_ON? Vale visitar ou revisitar.

Mais uma referência no assunto é a iniciativa Tendências em Serviços Ecossistêmicos (TeSE), do GVces. Tem como objetivo facilitar a inserção dos serviços ecossistêmicos na tomada de decisão empresarial, usando ferramentas de valoração. Para isso, desenvolve métodos simplificados, de baixo custo e baseados em dados de fácil acesso, gerando informações que subsidiem a análise de projeto e indicadores de desempenho. Confira a aplicação prática nestes casos empresariais.

No contexto internacional, o Projeto TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity) busca evidenciar para a sociedade e para os tomadores de decisão as relações de dependência e de impacto entre o capital natural e a economia de forma que tais relações reflitam nos processos de planejamento e na elaboração de políticas públicas e corporativas. No Brasil, o Projeto TEEB Regional-Local é uma realização do governo brasileiro, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) no contexto da Cooperação Bilateral Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.

As iniciativas de biomimética que contribuem para a conservação da biodiversidade e para o aumento do bem-estar humano também podem ser consideradas Soluções baseadas na Natureza. A Ask Nature (Pergunte à Natureza) é uma plataforma sobre biomimética em que pesquisadores, engenheiros, biólogos, arquitetos, designers e outros podem se conectar, trocar informações e produzir de maneira colaborativa.

  • SbN e ODS

Assista aqui ao vídeo em que Johan Rockström and Pavan Sukhdev, do Stockholm Resilience Centre, propõem uma nova maneira de ver os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – tendo quatro deles como base ambiental para os demais – e mostram como se interligam tendo a questão alimentar como fio condutor.

Ainda sobre os ODS, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicou esta brochura sobre o enfoque integrado da Agenda 2030, que aborda as questões ambientais em cada uma das metas.

  • SbN e Adaptação

O que as Soluções baseadas na Natureza têm a ver com adaptação à mudança do clima? Muita coisa!

O estudo AbE: oportunidades para políticas públicas em mudanças climáticas traz o conceito de Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE), além de apresentar cerca de 100 práticas de AbE no País e no mundo. Com base no levantamento realizado, foram indicadas recomendações objetivas para incluir estratégias de AbE em políticas públicas de adaptação à mudança do clima, com foco no Plano Nacional de Adaptação – conduzido pela Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do MMA, lançado em maio de 2016. A expectativa da Fundação Grupo Boticário é que este estudo contribua para a construção da estratégia nacional de adaptação, levando em conta a conservação da biodiversidade.

Esta publicação da TNC mostra como usar a natureza para minimizar os riscos climáticos e os desastres naturais.

Aqui mais um exemplo de adaptação que mostra o papel dos manguezais na proteção costeira. As ondas de tempestade ocorrem quando ventos fortes e baixa pressão atmosférica elevam os níveis de água na costa, fazendo com que a água do mar invada a terra. As maiores ondas de tempestade são causadas por ciclones tropicais, que podem resultar em inundações extensas, mortes e danos à propriedade – fenômeno intensificado pela mudança climática. Nessas circunstâncias, os manguezais reduzem o fluxo de água nos casos de tempestades, diminuindo assim as ondas superficiais e protegendo as áreas costeiras e seus habitantes.

  • Oferta e qualidade de água

Casos de aplicação prática de infraestrutura natural para enfrentar problemas hídricos e inundações estão reunidos nesta publicação.

Este blog do World Resources Institute (WRI) chamou atenção, em 2016, para problemas na oferta e na qualidade da água no Brasil, que havia vivenciado uma seca histórica em São Paulo, em 2014, e se preparava para receber atletas olímpicos nas águas poluídas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. O texto usa esses “ganchos” para mostrar como a infraestrutura natural pode ajudar a resolver crises hídricas.

Em seguida, o WRI indicou esta leitura, a respeito de uma ferramenta para análise econômica que ajuda os tomadores de decisão a comparar os potenciais investimentos em infraestrutura natural e em infraestrutura convencional. A ferramenta permite avaliar custos e benefícios de cada investimento no enfrentamento de desafios ligados a água, alimentos e energia.

A The Nature Conservancy, por meio deste vídeo, mostra como melhorar a segurança hídrica com Soluções baseadas na Natureza. A organização faz parte da Aliança Fundos de Água na América Latina.

Ao analisar as bacias hidrográficas e os mananciais que abastecem mais de 4 mil grandes cidades do mundo por meio deste estudo, a TNC traz uma informação preocupante: o índice de degradação é superior a 70% nos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo.

Algumas iniciativas, no entanto, trazem um alento. Uma delas é a recuperação florestal na Bacia do Rio Guandu, que abastece 8 milhões de pessoas no Rio de Janeiro. O Projeto Guandu Water Producer, lançado em novembro de 2008, cobra taxas de usuários a jusante, que são usadas ​​para compensar os agricultores e fazendeiros por reflorestamento de suas terras e conservando florestas. O resultado é uma água mais limpa e menos carbono liberado para a atmosfera. Confira neste vídeo.

  • Alguns projetos para o ambiente marinho

No Reino Unido, foi premiado neste ano um projeto de engenharia verde voltado para recuperar a vida marinha, como mostra este vídeo. A estudante de doutorado da Ciência Ambiental Kathryn O’Shaughnessy recebeu o Prêmio de Inovação do Fundo Seabed da Crown Estate para o projeto “Engenharia verde da infraestrutura costeira: um design para a vida”.

Em Seattle, nos Estados Unidos, este projeto permite que a luminosidade penetre nas águas mesmo através de píers e calçadas, favorecendo o ambiente marinho e a reprodução de salmões na costa que foi urbanizada. Poucas plantas podem crescer à sombra de estruturas de beira-mar. Mas a passagem de luz faz com que plantas marinhas e costeiras se desenvolvam, reunindo ao seu redor zooplâncton e outros invertebrados que servem de alimento para o salmão. Os planos para criar zonas ribeirinhas incluem plantar árvores e arbustos ao longo encostas, contribuindo também reduzir a erosão do litoral, melhorar a qualidade da água e aumentar a beleza da costa de Seattle.

  • E mais:

Saiba aqui como e por que as políticas de Pesquisa e Inovação na União Europeia estão direcionando a agenda pública para Soluções baseadas na Natureza e para o conceito de Re-naturing Cities.

A publicação Green Infrastructure: Engineering to Benefit Business and Biodiversity –Living solutions to environmental challenges on corporate lands traz casos de estudo sobre projetos de infraestrutura verde implantados por empresas em suas próprias unidades.