Roteiro e locução: Magali Cabral. Produção: Jorge Novais Telles. Legendas em inglês: Maria Emilia Guttilla
Aqui havia uma floresta. Assim, conservada, a floresta prestava muitos serviços ecossistêmicos aos habitantes dos campos e das cidades. Por exemplo, autorregulava o clima, polinizava plantas para gerar frutos, purificava as águas, fazia um controle biológico de pragas, de doenças e muito mais.
Hoje, de acordo com uma pesquisa recente, o planeta possui apenas cerca de 3% de seus ecossistemas intactos. Isso o coloca perigosamente próximo de um tipping point, um ponto de inflexão, de não retorno. É o momento em que a capacidade de resiliência da natureza é ultrapassada e as florestas e sua biodiversidade não conseguem mais se regenerar.
Uma parcela dessa pequena fração de ecossistemas originais está em biomas brasileiros, a maior parte em Terras Indígenas protegidas. Apesar de o planeta ter chegado a uma situação limítrofe, o uso do solo em biomas como Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Cerrado segue sob forte pressão, com os mecanismos de proteção sendo relaxados e os desmatamentos voltando a bater recordes.
E o que fazer para consertar essa situação? Ou concertar (no sentido de promover um arranjo)?
Para chamar a atenção do mundo para o tipping point, a ONU decretou a Década da Restauração de Ecossistemas. O objetivo é “aumentar os esforços para restaurar ecossistemas degradados, por meio de medidas eficientes no combate à crise climática, alimentar, hídrica e à perda de biodiversidade”.
O Brasil assumiu o compromisso de restaurar, dentro de critérios ecológicos, 12 milhões de hectares de áreas florestais degradadas até o fim desta década. Esse valor representa em torno de 10% da dívida que o País tem com suas florestas, o equivalente à soma dos estados da Bahia e de Minas Gerais.
Nas últimas décadas, investiu-se muito em restauração florestal no Brasil, mas com resultados pouco expressivos, principalmente diante do desafio global de combater a mudança climática. Faltou às técnicas de restauração empregadas um componente essencial: o ganho de escala.
Mas, em 2011, o Desafio de Bonn (The Bonn Challenge) – meta global de restauração de 350 milhões de hectares até 2030 – lançou uma nova abordagem: em vez de se trabalhar na escala de pequenos projetos, os países deveriam passar a planejar a restauração na escala de paisagens. Geograficamente isso significa, por exemplo, restaurar a área de uma microbacia hidrográfica, de um município, ou vários deles.
A restauração florestal em escala de paisagem não se limita a plantar árvores em áreas desmatadas. O que se quer ver são florestas crescendo com biodiversidade e empregos sendo criados, o que, em última instância, significa combater a pobreza e promover segurança alimentar e hídrica.
Uma diferença fundamental dessa abordagem em relação aos métodos tradicionais é a inclusão do ser humano e suas atividades produtivas no centro da paisagem e no planejamento da transformação que se quer.
Mais detalhes sobre a história desse que pode ser um casamento feliz entre conservação e agricultura você encontrará nesta edição bilíngue de P22ON, que traz também:
Uma entrevista com Matheus Couto, do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial, ligado à Década da Restauração.
As experiências de restauração de paisagem que já estão acontecendo nos diferentes biomas brasileiros.
A atuação em rede dos movimentos para a restauração florestal.
E artigos, entrevistas em vídeos, indicações de sites e de estudos para você mergulhar mais fundo no tema.
Boa leitura!