Por Amália Safatle
Ambientes silenciosos são tudo o que a Década da Restauração não quer. A iniciativa da Organização das Nações Unidas lançada em 5 de junho deseja ouvir o alarido da fauna repovoando seus habitats, para que se cumpram todas as funções ecológicas da restauração dos ecossistemas. Da mesma forma, a Década quer fazer barulho nas redes e nos meios de comunicação, para que as boas iniciativas nesse campo ecoem tal qual sementes germinando por toda a parte, e estas se revertam também em frutos sociais e econômicos.
A Década que começa em ano de pandemia tem um desafio extra: o de chamar atenção para o meio ambiente e angariar recursos quando os esforços dos países estão voltados sobretudo a combater novas ondas do coronavírus. Com isso, o financiamento por parte do setor privado será especialmente importante neste momento, na avaliação de Matheus Couto, o ponto focal brasileiro da Década da Restauração no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Para Couto, o Brasil encontra-se bem posicionado mundialmente neste tema, pois já acumula um histórico de práticas e de conhecimento, além de movimentos em rede que reúnem os mais diversos atores. No entanto, restaurar enquanto se desmata é como enxugar gelo, e o Brasil vem colecionando altas em desflorestamento. “Trocar o estoque de uma floresta supermadura ou bem conservada por uma floresta que está em estágio inicial de conservação não faz sentido. Os investimentos que estão indo para a restauração também devem continuar para a conservação dos ecossistemas”, afirma.
Após o malogro da Década da Biodiversidade (2011-2020) – nenhuma das 20 Metas de Aichi para a biodiversidade foi atingida e seis foram parcialmente atingidas, conforme relatório –, a Década da Restauração pretende apoiar-se na confluência entre as três conferências globais. Isso porque as conferências sobre Mudança Climática, Diversidade Biológica e Desertificação dependem da restauração para atingirem suas metas.
Matheus Couto é mestre em Ciência Florestal pela Universidade de Yale, mestre em Conservação da Biodiversidade e Sustentabilidade pelo Escas-Ipê, e Engenheiro Florestal pela Esalq-USP. Atua desde 2017 como Oficial de Programa do Centro para Monitoramento da Conservação Mundial do Pnuma (UNEP-WCMC). Possui experiência profissional de 12 anos em projetos ligados a uso da terra, sustentabilidade e restauração de ecossistemas.
Como e por que surgiu a iniciativa da Década da Restauração?
O conceito da Década da Restauração dos Ecossistemas foi apresentado por El Salvador e endossado por 71 países. A proposta foi aceita na Assembleia Geral da ONU de 2019, e a FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] e o Pnuma foram convidados para serem as agências líderes dessa Década. O que motivou? As três principais conferências ambientais são a de Diversidade Biológica, a de Mudança Climática e a de Desertificação, e percebemos que a restauração é importante para cumprir a meta dessas três conferências.
No âmbito da biodiversidade, a gente percebe que não basta apenas ter áreas protegidas, Unidades de Conservação, que incluem Terras Indígenas, quilombolas e tudo mais. Isso não basta para garantir a redução da perda de espécies, ou seja, os níveis de extinção continuarão subindo. É preciso restaurar os ecossistemas degradados. E, para a mudança climática, a mesma coisa. O Brasil colocou, inicialmente, como metas de NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada] a restauração de 12 milhões de hectares, mas também possui metas de agricultura de baixo carbono – isso também pode ser considerado restauração em uma definição mais ampla. E o combate à desertificação tem uma meta de neutralidade de degradação de terra, então é muito evidente que a restauração tem a contribuir.
Qual é a diferença entre restauração florestal, recomposição e reflorestamento?
Recomposição significa recompor exatamente as espécies que existiam no sistema original. A restauração tem um sentido mais amplo, pois leva em conta as funções do sistema, ou seja, trata da sua funcionalidade. Pois há árvores que estocam carbono, há árvores que atraem fauna e uma outra série de funções. Já o reflorestamento pode ser apenas de uma floresta de eucalipto, por exemplo.
A Década da Restauração foi lançada no Paquistão no dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Mas podemos dizer que já tem frutos sendo colhidos mesmo antes do lançamento?
Já tem havido movimentações, principalmente no âmbito do financiamento, com aceno dos países e do setor privado para mais investimentos, pois se observa que a restauração pode ser uma solução para diversos problemas ambientais. A Década procura fazer parcerias globais e locais, e já temos um coletivo com mais de 100 parceiros que se reúnem mensalmente para discutir os desafios da Década no mundo inteiro, em ecossistemas terrestres e aquáticos. Esse já é um benefício
A gente já está trocando conhecimento, gerando mais informação e estabelecendo métricas e parâmetros para monitorar as restaurações dos diferentes ecossistemas, principalmente porque há interesse em colocar a restauração como uma forma também para reconstrução pós-Covid. Pesquisas mostram que nos Estados Unidos já existem mais empregos na cadeia da restauração, de maneira mais ampla – até para o manejo florestal de madeira para construção – do que do ferro e do aço. Essas pesquisas também identificam qual desses setores gera mais emprego por milhão de dólares investidos, e o setor de restauração é muito eficiente. Por isso é estratégico investir em restauração, pelo retorno direto de criação de empregos e pelo retorno indireto de benefícios ambientais para a sociedade.
A quantidade de terras já disponíveis no mundo para agricultura é suficiente para prover alimentos para bilhões de pessoas, considerando o aumento populacional, sem precisar avançar mais sobre os ecossistemas naturais?
A gente tem um projeto de pesquisa que procura responder a essa pergunta. Existem diferentes modelos da economia global e você consegue projetar no futuro a demanda de alimentos e consequentemente o uso da terra no Brasil e nos diferentes países. Neste projeto, a gente usa um modelo parcial da economia, ou seja, não abarca todos os setores, mas os que a gente considera como essenciais. A partir de algumas análises, é possível fazer escolhas de políticas públicas.
No Brasil, tem bastante área aberta que é utilizada para a pastagem, são mais de 100 milhões de hectares. O País tem muitas áreas já abertas para produção de alimentos até 2050. Se forem adotadas políticas públicas de uso mais eficiente da terra, nas quais se incluem as tecnologias da Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF) e outras tecnologias de agricultura de baixo carbono, e isso for feito de forma eficiente, não precisa mais desmatar. É uma tarefa difícil pois envolve atividades que muitas vezes são legais e também ilegais. É uma linha difícil de controlar.
Como o Brasil está situado no cenário internacional da restauração? Está fazendo bem a lição de casa?
O Brasil está muito bem posicionado para realizar as ações da Década porque a gente já tem pesquisas que já estão aí há muito tempo. O País tem áreas restauradas há mais de 40 anos e universidades que desenvolveram pesquisas capazes de influenciar o mundo. A Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, por exemplo, foi um dos primeiros casos em grande escala de restauração. O Brasil tem a cadeia produtiva organizada em alguns lugares – é mais forte na Mata Atlântica, mas isso gera conhecimento para ser trocado com os outros biomas também. Vejo que o Brasil tem condição de se posicionar como ator central na Década de Restauração.
O Brasil tem feito pesquisas e projetos de larga escala e mostrado esses projetos ao mundo. O mapa global de áreas prioritárias da restauração, por exemplo, está sendo produzido por cientistas brasileiros. O Pacto para Restauração da Mata Atlântica reúne um grupo de atores bem diversos que inclui empresas e tem realizado restauração há muito tempo (saiba mais nesta reportagem). Outros mecanismos são a Vitrine da Restauração que a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica e a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura estão disponibilizando, que é o mapeamento dos atores da cadeia. Muitos países não estão nem perto disso.
Outro exemplo é o Observatório da Restauração e do Reflorestamento, desenvolvido pela Coalizão, que mostra para o usuário quem restaurou as áreas e onde elas estão. No âmbito federal, tem um projeto muito interessante, o programa Águas Brasileiras, que conseguiu financiamento de mais de R$ 600 milhões junto ao setor privado para 26 projetos. Há ainda governos estaduais e municipais desenvolvendo planos para restauração e para conservação de florestas.
Uma coisa que coloca o Brasil em uma posição de vanguarda são as organizações em rede nos biomas. Além do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, está se iniciando a Aliança pela Restauração da Amazônia e tem um grupo do Cerrado que se chama Araticum. Por meio desses grupos de composição mista, que envolvem diferentes interessados, é possível criar uma troca de conhecimento e uma capacidade maior de trabalho do que se atuassem sozinhos (saiba mais nesta reportagem).
E um dos campos mais ricos no País são as iniciativas que olham a restauração como forma de negócio, pensando em um modelo que seja produtivo também. Quando a gente pensa em restauração de paisagens, tem lugar para tudo. Tanto a restauração mais conservacionista – ou seja, restaurar aquela mata ciliar, a Área de Preservação Permanente com apenas espécies nativas, pensando na conectividade entre os fragmentos –, como também para o proprietário rural fazer o uso da terra que seja regenerativo, usando espécies nativas e exóticas, mistas, agroflorestas e sistemas integrados.
E quanto ao investimento em Pesquisa & Desenvolvimento no Brasil?
A gente precisa ter mais investimentos, até porque existem diferentes contextos. Restaurar uma área que foi usada por mineração é muito diferente de restaurar uma área que estava sob pastagem. Quando você pensa em ecossistemas marinhos ou de água doce, a gente está só começando. Na linha da restauração florestal, tem algumas inovações bem interessantes. A questão é que, para se entender se a metodologia obteve sucesso, leva muito tempo, algo como 20 anos para se monitorar e entender se surtiu o efeito desejado, então são pequisas de longo prazo.
Algumas alternativas interessantes são as redes de sementes e o plantio a partir da muvuca, que é um plantio mecanizado utilizando sementes florestais, sem uso de mudas. Isso tem mostrado que reduz o custo e ganha escala. O momento inicial de convencimento é difícil, mas depois que você passa a mostrar o resultado, começa a aparecer muita gente interessada em fazer.
Quem mais procura? Comunidades, produtores rurais?
Principalmente os proprietários rurais. Na Serra do Espinhaço, tem uma organização que conseguiu crescer muito em pouco tempo: o Instituto Espinhaço. O instituto iniciou um processo de restauração e hoje os produtores da região já vão procurá-los no escritório. Já restauraram mais de 2 mil hectares e estão com contrato para mais 2 mil, é uma escala significativa. E tem cooperativas e grupos de pesquisa que querem entender melhor. Há uma gama de atores buscando esse tipo de solução.
Essa demanda dos produtores rurais é para cumprimento de Código Florestal ou isso se deve ao fato de que as pessoas veem um ganho para a própria produção?
Penso que o Código Florestal seja o principal vetor de procura por parte dos proprietários. Faz o CAR [Cadastro Ambiental Rural] e, se existe passivo, vai buscar a restauração. Mas também há casos de produtores que percebem o benefício. No Vale do Rio Doce, onde o Instituto Terra atua, há produtores que viram a nascente voltar. Ali tem períodos de escassez hídrica muito acentuada, e os que fizeram a restauração de nascentes estão sofrendo menos, o que incentiva os vizinhos a buscarem organizações que apoiam a restauração.
O Brasil apresenta altos índices de desmatamento em vários biomas. Restaurar enquanto ainda se está desmatando é como enxugar gelo?
A gente não pode trocar a conservação pela restauração, ou seja, não pode trocar um hectare de floresta desmatada por um hectare em restauração porque não é a mesma coisa. A ONU tem um trabalho sobre contabilidade ambiental, com estatísticas comparáveis entre os países, para que a contribuição da natureza na sociedade seja, de certa forma, mensurada. A natureza é um elemento central da economia e contribui para os diferentes setores. Um dos primeiros elementos é entender o quanto existe em termos de estoque dos ecossistemas e o segundo passo é saber a condição do ecossistema. Então, trocar o estoque de uma floresta supermadura ou bem conservada por uma floresta que está em estágio inicial de restauração não faz sentido. Esses investimentos que estão indo para a restauração também devem continuar para a conservação dos ecossistemas. A Década da Restauração surgiu dessa necessidade de complementar a conservação, e não de substituí-la.
Outra questão é: qual o grau de segurança para essas áreas de vegetação secundária que foram regeneradas? Atualmente, não é tão forte. A gente quer discutir no âmbito dos parceiros nacionais da Década como garantir que essas áreas de regeneração possam chegar em uma floresta madura. O desafio é como a gente contabiliza isso para as metas internacionais. É preciso ter essa qualidade do dado. A gente está falando para o mundo que a Amazônia regenerou tantos milhões de hectares, mas será que vai permanecer regenerando até 2030?
Qual o papel do setor privado sob o aspecto da restauração da paisagem? A gente ainda vê muitas empresas dando ênfase à quantidade de árvores plantadas e de hectares restaurados, e menos se fala na melhora dos processos ecológicos.
O papel das empresas é o mais importante neste momento em que o mundo está lidando com uma crise de saúde e o meio ambiente não é a prioridade. Mas, para as empresas que estão buscando responsabilidade socioambiental e querem fazer ações de sustentabilidade, a restauração ecológica pode ser uma solução para algumas ações e estratégias. Para as empresas que estão buscando a neutralidade de emissões – por exemplo, no movimento da Race To Zero –, investir em restauração é uma forma de chegar à neutralidade de emissões. Quando ela não consegue mais reduzir, pode investir em formas de compensar essas emissões. Tem uma empresa que eu acho muito interessante, que é um mecanismo de busca na internet onde eles colocam a restauração na frente do lucro – pelo menos a mensagem deles é essa. Chama-se Ecosia. Para cada 45 buscas, eles plantam uma árvore, e já financiaram alguns projetos no Brasil, em diferentes regiões.
Mas se a meta primordial for a neutralidade de emissões, a empresa pode colocar espécies que capturam mais carbono mais rapidamente e isso pode prejudicar outras funções ecológicas?
A gente precisa de projetos que façam sentido ecologicamente e que recuperem as funções do ecossistema, que realmente contribuam para a diversidade e outros elementos, e vão além do carbono. Tem um elemento que é o serviço ambiental da água, restaurar nascentes e matas ciliares, o que é benefício para a sociedade mas também estratégico para as empresas, pois a maioria usa água no processo produtivo. Além disso, tem que olhar o [aspecto] social, o humano, quem é a pessoa dentro da área que você vai restaurar, como ela vai se beneficiar dessas ações, qual é a geração de empregos, quais são os benefícios socioeconômicos. É preciso considerar tudo isso. No âmbito da Década, a gente está procurando dar mais evidência ao lado socioeconômico porque é onde tem mais campo para se avançar. É a interface entre o social e o ambiental.
O que precisa avançar nesse campo?
Entender as escolhas, a economia comportamental dos proprietários de terra, o que o faz tomar certas decisões, o que pode fazer esse proprietário optar por um uso mais regenerativo, ou pela agricultura regenerativa, e também entender os benefícios gerados pela cadeia de regeneração. Há poucas informações sobre isso, sobre os coletores de sementes, os viveiros, as organizações de apoio. É preciso entender toda essa cadeia para perceber os benefícios socioeconômicos e como isso se reflete para a sociedade na forma de serviços ecossistêmicos, como produção e qualidade de água, sequestro de carbono, redução da poluição. A questão da arborização urbana também está dentro da Década, porque cidades com mais árvores têm mais conforto climático e permeabilidade, e menos enchentes e poluição. Tem bastante campo de estudo (sobre arborização urbana, assista ao videodepoimento de Ricardo Cardim).
Toda essa parte da comunicação, mobilização e engajamento dos produtores rurais é um mundo a desbravar?
Esse é o pilar do movimento global da Década: fazer com que a restauração esteja nos diferentes meios de comunicação, que sejam mais perceptíveis os benefícios da restauração. Isso inclui fazer documentários, fazer com que apareça nas redes, que esteja mais frequente nos programas de TV, jornais. A gente quer ver a restauração integrada tanto nas ações de políticas públicas quanto privadas e nos meios de comunicação. Por isso, a gente precisa ter as vozes da restauração, ou seja, projetos bem-sucedidos para influenciar mais pessoas.
Que exemplos de restauração no Brasil são inspiradores? Tem algum bem emblemático, na sua opinião?
Tem alguns. Um deles é a restauração das áreas marinhas protegidas e o papel que elas possuem em restaurar as populações de peixes, até os ameaçados de extinção. As áreas marinhas servem de berçários e, onde a pesca é controlada ou não é permitida, são gerados benefícios para a restauração dos ecossistemas marinhos que vão além daquela pequena área.
Um outro exemplo, que foi premiado ano passado, é a Rede de Sementes do Xingu. É um projeto muito bonito que aliou o conhecimento tradicional de populações indígenas de coletas de sementes na Bacia do Xingu ao conhecimento da agricultura mecanizada, gerando esse sistema de plantios que é a muvuca, com restauração florestal em larga escala. Serve para a gente entender os benefícios socioeconômicos além dos ambientais.
Outros exemplos são o Instituto Terra, no Vale do Rio Doce, o trabalho da TNC na região da Mantiqueira e o trabalho do WRI na Região Metropolitana de São Paulo. Tem a Symbiosis Investimentos em Trancoso (BA), que faz um plantio misto de espécies de madeira nativa e exótica e que conseguiu fazer um modelo de negócio lucrativo para a empresa usando a restauração como o lema (mais sobre a Symbiosis nesta reportagem). No Pará, que hoje em dia é líder em produção de cacau, a maioria das fazendas de cacau produz em agrofloresta, em áreas que antes eram de pastagem e agora estão sequestrando carbono, enquanto as espécies que fazem sombra para o cacaueiro servem de habitat para aves.
E mundialmente falando?
Tem um movimento bem ambicioso em países subsaarianos em fazer um cinturão verde ao sul do Deserto do Saara, que tem ganhado bastante evidência. Outra lição a ser aprendida é com a China, que fez um movimento bem ambicioso de restauração dos ecossistemas. A gente precisa aprender com isso, porque eles ganharam uma escala muito grande, mas talvez nem todas as ações de restaurações tiveram tantos benefícios ecológicos no sentido de ter uma diversidade de espécies, é uma simplificação da restauração (acesse mapa com algumas iniciativas internacionais nesta reportagem).
Uma questão é a defaunação. A gente está fazendo restaurações não para criar ecossistemas silenciosos, sem fauna. É preciso entender quais são as espécies-chave que têm função regenerativa e de conservação nesses ecossistemas e trabalhar as populações dessas espécies. Existe um papel interessante para zoológicos, aquários e instituições de pesquisa em entender as ecologias das espécies ameaçadas para que, junto com a restauração vegetal, os ecossistemas também sejam povoados por espécies animais silvestres.
Tem espécies que ajudam mais a propagar sementes?
Sim, aqui no Brasil, inclusive, tem uma com fama não muito boa, que são os morcegos. Os morcegos são centrais na regeneração de florestas no Brasil. Na Mata Atlântica, em algumas árvores com formato de copa de guarda-chuva que servem de abrigo para morcegos, é possível encontrar embaixo uma diversidade incrível de outras espécies de árvores, porque o morcego come frutas e onde ele dorme nasce um monte de mudas. E tem também as aves e os mamíferos.
Há recursos suficientes para a restauração, inclusive para financiar a própria iniciativa da Década?
O financiamento é extremamente importante para as ações de restauração florestal. Um hectare de floresta pode custar de R$ 12 mil a R$ 25 mil ou até mais, dependendo da condição inicial. Então, para restaurar 12 milhões de hectares, a gente está falando de bilhões. Para isso, a gente precisa do compromisso dos países, dos governos federais e subnacionais, mas também das empresas. A Década está fazendo um engajamento com os países doadores da ONU e criou o Multi-Partner Trust Fund for the Decade on Ecosystem Restoration, que é um fundo para o qual os países vão fazer doações e isso será investido em projetos de três janelas. A primeira são de projetos regionais, que envolvem diversos países; a segunda são projetos inovadores; e a terceira, voltada para o monitoramento de projetos no mundo inteiro. Mas esse fundo não conseguirá suprir toda a demanda da restauração, por isso a gente também está trabalhando com o setor privado, para que invista mais em restauração florestal. Uma das iniciativas que já surgiram é o programa 1 Trilhão de Árvores, com o Fórum Econômico Mundial, e com isso já surgiram os primeiros projetos.
Quanto precisa ser investido em restauração? Existe um número?
Eu não tenho esse número. Mas existem algumas pesquisas, como esta feita pelo IIS [Instituto Internacional para Sustentabilidade], a qual mostra a relação custo-benefício da restauração.
Acesse trechos em vídeo da Entrevista: